sexta-feira, 20 de abril de 2012

"Despamonhização"


Achei essa entrevista  por acaso no site http://projetoawake.com.br/?paged=6 e estou reproduzindo pq achei muitíssismo interessante! Lá vai:
Adorei essa entrevista com o filósofo Mário Sérgio Cortella, ele faz uma analogia da busca do prazer imediato com o miojo e da busca a longo prazo com a pamonha. Segue duas perguntinhas da entrevista:


Essa idéia de pressa tem haver com o que você chama de despamonhalização da vida?
“Nós vivemos em um mundo, especialmente por conta das plataformas digitais, em que a lógica é a do “tudo agora ao mesmo tempo junto”. Umas das coisas que leva á perda da noção de tempo e processo é o que chamo de despamonhalização da vida. Nós paramos de fazer pamonha e passamos a comprá-la pronta em nome de algo que é prático. Nem sempre o prático é certo. Muitas vezes o prático é só o prático. É mais prático furtar que trabalhar, colar que estudar, copiar do que ter que pesquisar. Em nome do prático, começamos a utilizar como critério tudo aquilo que é imediato. E paramos de fazer pamonha. Nã se trata de saudosismo, mas de trazer daquele tempo coisas que não podem ficar apenas lá. Quando se fazia pamonha passamos o dia inteiro juntos. Os homens saiam de manhã, iam buscar milho na roça, arrancavam a palha. As crianças tiravam o cabelinho que ficava no meio. As mulheres tinham o trabalho mais complicado, que era ralar o milho e costurar um saquinho de palha. Fazíamos isso das sete da manhã até as da quatro da tarde, que era quando comíamos a pamonha.
A Finalidade de fazer pamonha não era comer pamonha, era ficar junto o dia todo. Crianças e jovens aprendiam que para que uma pamonha aparecesse era preciso tempo, trabalho, convivência, divisão de tarefas.”


A despamonhalização é uma recusa ao imediatismo da vida?
“Exato. A idéia da pamonha é evitar aquilo que chamo de miojização da vida, a vida miojo. O namoro miojo, o sexo miojo, a pesquisa miojo. Hoje um jovem imagina que para fazer uma pesquisa ele dá uma “googleada” e pronto. Não. A internet é um poderoso meio de de começo de pesquisa, não de término. A idéia do “ficar”, comum entre os jovens, representa muitas vezes a miojização das relações. Há também casamentos miojo. Relação de casamento e também de vida. E até relação religiosa miojizada- o sujeito vai apenas à missa das 10 no domingo, porque é mais curtinha. Enfim, essa miojização do mundo corresponde a uma despamonhalização da vida, que é preciso rejeitar.”

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